O ritual da abóbora e o dia de todos os santos

Já tinha partilhado, em anos anteriores, que por altura do Halloween procedo a algum tipo de celebração alusiva, ficando pela abóbora e velas a iluminar o interior colocando-a no exterior da casa. 


O escolher da abóbora, o preparar e iluminar é uma brincadeira que me dá gozo fazer. Já apurei que é para mim uma forma de brincar com a minha criança interior, para além disso reconheço a atração pela cor laranja. Adoro ver esta cor por todo o lado nesta altura bem como as cores das folhas caídas que são lindíssimas.


Talvez seguindo esta lógica, o ritual da abóbora, seja a minha forma de aceitar a chegada do outono e apreciar a sua beleza e importância no ciclo da natureza, e por consequência em nós. Não sou fã da chegada do frio, do abrandar e do recolher, e luto contra o frio, sendo quase sempre derrotada, lutando de igual modo com a necessidade de ter sempre quase tudo feito. Já não possuo forças para isso e tenho que ir aceitando que vai-se fazendo aqui em casa, os livros vão-se lendo, os posts vão-se publicando quando der ou tiver que ser. Para ser sincera a vontade de escrever no(s) blog(s) surge naqueles minutos entre o deitar e o adormecer, e é nessa altura que gostava que existisse uma tecnologia que permitisse estar enroscada nos cobertores enquanto tudo era escrito e editado 😄.

É ponto assente que as festas de Halloween, e toda a parafernália de adereços e afins, não é uma tradição nossa, mas seja pelos miúdos que adoram o conceito ou os graúdos que vão resgatar o espírito de brincadeira com os trajes, ou o dinheiro que acrescenta às máquinas registadoras, a coisa veio para ficar!


Eu prefiro dizer "Dia das Bruxas". Acho piada, e tenho admiração pelos acessórios associados às ditas cujas. Bruxa é aquele nome que muitos evitam pronunciar e outros se recusam a admitir que em algum momento da vida "já foram à bruxa" ou sabem de alguém que foi. Há toda uma história/cultura/literatura associada à palavra Bruxa que gostava de desenvolver outra altura, eventualmente 😁.

O certo é que a noite das bruxas é historicamente uma "noite santa" pois antecede o Dia de Todos os Santos. E este dia conhecemos bem porque para além de ser um feriado bastante oportuno é tradição bem enraizada ir assear as campas e visitar os mortos.

Aproveito a abóbora para acender as velas por aqueles que partiram, pelo menos aos que querem ser lembrados e não se importam de uma velinha. É também a minha forma de homenagem aos antepassados, para todos os efeitos não estaria aqui sem eles mesmo que não tenham deixado um legado pomposo e conhecido.


É só mais um ano que me ausento dos rituais do cemitério pela guerra que comecei a observar entre quem deixa as flores e acende as velas, neste dia, numa clara luta por território: perdoem-me a franqueza 😬. É triste que se desenrole assim por isso nem me involvo. Já é complicado aceitar que os ossos de alguém estão de baixo de terra e se homenageia esses ossos com flores ou quer que seja. Restos mortais de alguém que no fundo não o são porque esse alguém já não mais está lá (paradoxal?), de modo que tudo isto me afasta deste local nesta altura.


Prefiro acender as velas remotamente e ao mesmo tempo celebrar de forma minimalista a chegada do outono. Que para mim, pelo frio, é como se já fosse inverno. Os Celtas celebravam no dia 1 de Novembro a chegada do inverno pois só consideravam duas estações, o verão e o inverno, e é quase assim para mim em termos de temperatura.

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